Artista recebeu a extrema-unção na sexta-feira (02); corpo será velado no Congresso argentino
Mercedes Sosa realizou trabalhos com Milton Nascimento, Daniela Mercuy e Caetano VellosoA lendária cantora argentina Mercedes Sosa faleceu neste domingo (03), conforme informaram os familiares. Ela tinha 74 anos. "Nesta data, na cidade de Buenos Aires, Argentina, temos que informar que a senhora Mercedes Sosa, a maior artista da música popular latino-americana, nos deixou", diz um comunicado entregue pela família da cantora a jornalistas que estavam na frente da clínica Sanatório de la Trinidad, no bairro portenho de Palermo.
"Uma mulher maravilhosa nos deixou" disse o sobrinho da cantora, "Cuqui" Sosa. Segundo ele, o corpo da cantora será velado no Congresso argentino.
Até agora, não existe boletim médico sobre a morte de Mercedes Sosa, cujo óbito aconteceu pouco após 5h deste domingo.
O último boletim de sábado (02) à noite dizia que a saúde da cantora "segue muito grave" e "com deterioração maior das funções orgânicas". Os médicos também ressaltaram que ela continuava "em coma e com assistência respiratória mecânica". Na noite da sexta-feira, o sacerdote Luis Farinello deu a extrema-unção à cantora.
"Gracias a la vida/que me ha dado tanto...", a canção de Violeta Parra, considerada uma das fundadoras da música popular do Chile, ganhou versão definitiva na voz de Mercedes Sosa. Apelidada por alguns de "A voz da América Latina", Sosa deixa uma obra vasta e de forte temática social, após uma vida de resistência política misturada ao romantismo, com dezenas de parcerias importantes.
Nascida em 1935 em Tucumán, no norte da Argentina, Mercedes Sosa teve origem humilde e gostava desde cedo de interpretar canções folclóricas. Aos 15 anos, participou de um concurso de uma rádio com um grupo, quando a afinada cantora se destacou. O prêmio pela vitória foi um contrato de dois meses com uma emissora. Era o início da carreira.
Na década de 1960, Mercedes participou do Movimento do Novo Cancioneiro, surgido em Mendoza e centrado na música popular latino-americana, com ênfase no componente social. Além de obter sucesso na Argentina, a artista ganhou palcos pelas Américas e também na Europa.
A temática social e a ligação com a esquerda lhe renderam também dissabores. Em 1979, um show da artista foi invadido pelos militares, durante a ditadura argentina (1976-83). Não apenas ela foi presa, mas inclusive o público presente. Naquele mesmo ano, Mercedes decidiu se exilar.
"La Negra", como também era conhecida, voltou à Argentina em 1982, na fase final da ditadura. Na década de 1980, Mercedes realizou trabalhos em parceria com Milton Nascimento. Entre os brasileiros que também cantaram com ela estão ainda Caetano Velloso e Daniela Mercury.
Na reta final, Mercedes ainda encontrava reconhecimento do público e da crítica. Seu último álbum, "Cantora 1", alcançou boa vendagem e foi indicado a três prêmios no Grammy Latino, com entrega marcada para 5 de novembro em Las Vegas. Entre os parceiros deste último trabalho estão artistas como Shakira, Fito Páez e Joaquín Sabina.