Preconceito anti-Jedi na Inglaterra
Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil
Aqui e ali, na esquina e na imprensa, surgem, vez por outra, manifestações de discriminação religiosa aqui neste país onde o anglicismo, até onde sei, é a religião oficial.

Os bons livros e as boas maneiras nos ensinam também que a tolerância é uma virtude que faz parte dos modos e maneiras dos britânicos. Pelo menos em teoria.

Judeus são aceitos, católicos, presbiterianos, rastafáris e muçulmanos também. Apesar de tudo, volta e meia dá bobagem. Feito o uso ou não do véu entre as mulheres muçulmanas. É tema abordado a sério, talvez excessivamente sério e rigoroso, para não dizer com má vontade, em certos setores.

Lembremo-nos do capítulo Salman Rushdie, só para ter uma ideia. Agora, esqueçamo-lo. Desnecessário requentar (no bom sentido) “aquele” livro. Lembrar, mencionar e seguir rápido em frente.

Religião e política eram os dois assuntos tabus nos papos de pubs, quando estes existiam e neles se podia fumar. Concordo plenamente. Com a velada proibição espontânea. Dois assuntos que procuro evitar a qualquer preço, em qualquer lugar, em conversação com qualquer pessoa.

A religião, no entanto, pode ser um amparo. Precisamente quanto mais esotérica for. Religião sem riso definitivamente não é comigo. Por esse motivo me danei ainda recentemente.

Seguinte: um cavaleiro Jedi foi expulso sem a menor cerimônia de um armazém de popular cadeia britânica. Dou logo o nome: Tesco. O nome da cadeia e não do cavaleiro Jedi.

Esse chama-se Daniel Jones e é o fundador da Igreja Internacional do Jediismo (ou será Jedismo? Não sei como se chama aí no Brasil), que, supostamente, segundo o cavaleiro, ou knight, em questão, tem mais de 500 mil seguidores espalhados pelo mundo. Não esclareceu se há ou não Jedis em outros planetas. Capaz.

Daniel Jones começou a tentar, pelas vias legais, processar a poderosa Tesco (mais de 5 milhões de seguidores, só em Londres) por discriminação religiosa. O cavaleiro Daniel Jones alega estar traumatizado com sua experiência num supermercado Tesco. Consta que lhe exigiram no estabelecimento comercial em questão a retirada, ou pelo menos baixada, do capuz que faz parte da vestimenta Jedi. O departamento de relações públicas da Tesco diz que não fez mais que qualquer instituição de bom senso do gênero faria: gente com rosto coberto ou oculto assusta fregueses, trabalhadores e principalmente o pessoal que trabalha na caixa.

No jornal em que pesquei a nota, o repórter perguntou ao bem-humorado funcionário tesquiano se eles proibiriam o uso do véu por uma senhora ou senhorita muçulmana. “Não”, foi a resposta sem graça dada pelo cavalheiro em questão, já prevendo aborrecimento pela proa e procurando a saída, qualquer saída, antes que a burca viesse a confundir ainda mais o ardiloso diálogo com a imprensa.

O jocoso porta-voz Tesco, optou por apontar para o fato de que outros Jedis de distinção, tais como os icônicos e emblemáticos Obi-Wan Kenobi, Yoda e Luke Skywalker aparecem constantemente sem capuz nos diversos filmes da épica série Guerra nas Estrelas.

Estabeleceu-se apesar de tudo, sem ter que aborrecer juizes e dispendiosos advogados, que o uso de capuz por cavaleiros da Ordem dos Jedis passou a ser facultativo em qualquer super ou mini-mercado Tesco.

No que encerro a história citando as sábias palavras do Mestre Jedi Luminara Undi: “O Jedi é o cristal da Força e a Força é a lâmina do coração.”

E que a Força esteja com todos.

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